Usualmente, assume-se que todo líder está preparado para tomar decisões, afinal, esta é uma de suas principais atribuições no mundo corporativo. E um líder que consistentemente toma boas decisões, sem hesitação ou procrastinação, tem um grande diferencial no mercado de trabalho.
Mas na prática eu tenho notado uma grande quantidade de líderes cada vez mais tensos, estressados, inseguros e infelizes, pela crescente pressão de ter que tomar decisões mais rápidas, mais complexas, envolvendo situações e problemas novos, onde ainda há pouco conhecimento ou experiência prévia. Como sair desta enrascada?
Uma falácia é acreditar que a enorme disponibilidade de dados, informações, I.A. e outros recursos tecnológicos irá resolver o problema. Eles sem dúvida ajudarão a desenvolver, avaliar e quantificar rotas e opções para as suas decisões, mas não irão solucionar os problemas em si.
Este artigo tem o objetivo de ajudar neste processo complexo, compartilhando alguns frameworks e dicas inspirados em textos da HBR, Forbes, e na minha própria experiência como líder. De forma sucinta, alguns passos que ajudam na tomada de boas decisões são:
A clara identificação do problema ou oportunidade: Parece óbvio, mas em inúmeros casos vejo que a pressa, a ingenuidade, a arrogância, preconceitos e vieses diversos geram falhas significativas no enunciado da questão a ser resolvida. E, parafraseando Einstein, "se eu tivesse uma hora para resolver um problema, eu passaria 55 minutos pensando sobre o problema, e cinco minutos pensando sobre a solução". Nessa identificação do problema, lembre-se que é fundamental manter uma visão de longo prazo, alinhada à estratégia e aos valores da sua empresa e da sua área específica. E cuidado para não confundir os sintomas do problema com as suas causas-raiz. Cavoque mais fundo, questione, desafie paradigmas, sempre com base na racionalidade, sem envolver emoções ou preconceitos.
Alinhar o poder do decisor: Cada caso é um caso, mas em todos é fundamental acordar logo de início quem será o decisor final, que prazo ela/ele tem para a decisão, quem mais deverá ser ouvido e envolvido. Um framework antigo mas que sempre ajuda neste momento é o RACI (ou RASIC); ele pode soar um pouco burocrático, mas eu testemunho o seu valor em inúmeros casos práticos, para evitar mal-entendidos posteriores. E fiquem de olho no ‘ego’ do decisor, para que não cause vieses, tensões ou até rupturas no processo.
A inclusividade: Não acredito muito em gênios que dizem poder decidir tudo sozinhos. O mundo está complexo demais, e com tantas implicações e partes envolvidas em cada situação, que a melhor tomada de decisão é usualmente feita consultando-se uma boa diversidade de perspectivas e partes interessadas, buscando-se entender não só as suas recomendações mas também as suas percepções sobre riscos e barreiras. Neste ponto é importante equilibrar o “tempo de consulta aos outros” versus a velocidade na tomada de decisão, ou seja, incluir diversas perspectivas mas não tomar demasiado tempo. E vale lembrar que as melhores decisões são tomadas quando envolvemos as pessoas mais próximas do campo de ação -- vendas, chão de fábrica, atendimento ao cliente, etc.
O uso das informações: Ainda que muitos problemas possam parecer inéditos, frequentemente podemos encontrar bons ‘benchmarks’, casos e referências que possam embasar a construção dos nossos cenários e a análise do perfil de risco-retorno de cada um. Intuição nos negócios é uma boa, mas é ainda melhor quando suportada por dados. Certifique-se de buscar as informações que realmente sejam relevantes e de fontes críveis. E cuidado com os famosos ‘vieses’ (conscientes e inconscientes) dos diversos stakeholders.
O timing e ambidestria: A capacidade de analisar e avaliar os cenários, benefícios,riscos e ações de curto e de longo prazo, paralelamente, é absolutamente crucial para o sucesso de qualquer decisão. E é aqui onde infelizmente vejo ocorrer com frequência um viés para decisões que priorizam o curto prazo, desprezando o impacto no médio e longo prazo. Dito isso, a decisão precisa acontecer no tempo certo -- de nada serve tomá-la com demasiada pressa e de forma equivocada, nem tampouco entregar uma decisão “perfeita” fora do prazo.
A comunicação: Tão importante quanto tomar uma boa decisão é saber comunicá-la adequadamente, no momento certo, a todos os ‘stakeholders’ envolvidos, considerando o impacto que poderá ter para cada grupo. Um bom framework para as decisões que envolvam um certo grau de mudança (‘change management)’, são os famosos 8 passos de Kotter. Vale estudar e aplicar o framework adequadamente.
O feedback: A maioria das decisões não são eternas ou imutáveis. O contexto que estava por trás de uma decisão, tomada em um certo momento, pode ter mudado logo depois, ainda mais em nosso mundo volátil e competitivo. Por isso é fundamental incluir ‘loops’ de feedback para capturar as mudanças e ajustes necessários, após a tomada da decisão.
Neste curto artigo teria sido impossível cobrir todos os inúmeros ângulos e aspectos de um processo decisório, mas espero que eu tenha conseguido inspirá-los a experimentar algumas dessas dicas e técnicas, e buscar mais conhecimentos e aprendizados sobre esse rico tema, que é um dos mais importantes no mundo corporativo de hoje.
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